Acendi a lareira com a lenha que peguei no caminho de volta e subi
para o quarto pela primeira vez. Escuro, frio e sujo. Era tudo tão vazio que eu
quase podia ouvir a voz da solidão me pedindo para lhe tirar em uma dança.
Larguei-me naquela cama meio dura e pude ouvir minhas costas gemendo em
agradecimento ao tão esperado repouso.
Senti algo quente em meu rosto que machucava meus olhos, era o
sol. Dormira eu tanto assim? Levantei-me com dificuldade e me prostrei em
frente à pequena janelinha do quarto, sim, havia amanhecido, fazia frio, mas o
sol dava o ar da graça com seu brilho e sua falta de educação em não tomar
cuidado com os olhos alheios.
Novamente ouvi barulhos do lado de fora e apressado desci a escada
e me escondi atrás da porta olhando pela fresta o que poderia ser desta vez. Eu
desejava que fosse alguém a quem eu pudesse descarregar minha raiva, ou meus
ensinamentos com minha amante lâmina, quem sabe. Esperei ansioso, meus olhos
começaram a brilhar conforme os passos ficavam mais perto...mais perto...sim,
eu finalmente podia ver, claro como água, era uma garota de costas para minha
porta, com um ar de perdida. Seria eu um lobo mal?
A garota se virou, não me via, mas eu podia vê-la com todos os
detalhes possíveis e quando me dei conta eu estava caído ao chão comprimindo a
parte detrás de minha cabeça na porta, surpreso olhando pro nada, desesperado,
sentia meu coração do tamanho de uma ervilha, que diabos era aquilo? Linda, era
a coisa mais linda que vi em toda minha vida e eu queria morrer por isto.
